PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Delator diz que doleiro atendia 'operações maiores' de ex-governador de Minas

Cláudio Barboza, o ‘Tony’, contou ao Ministério Público Federal do Rio que Camilo Lelis de Assunção, doleiro estabelecido em Belo Horizonte e preso na Operação 'Câmbio, desligo', usou conta de empresa ligada a Newton Cardoso (MDB)

Foto do author Julia Affonso
Por Julia Affonso
Atualização:

Newton Cardoso (MDB-MG). Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

O doleiro Cláudio Barboza, o 'Tony', delator da Operação 'Câmbio, desligo', afirmou que o doleiro Camilo Lelis de Assunção, de Belo Horizonte, usou uma conta no exterior ligada a uma empresa da família do ex-governador de Minas Newton Cardoso (MDB), o Newtão, para operar.

Documento

DEPOIMENTO

PUBLICIDADE

Documento

ANEXO

A Operação 'Câmbio, desligo' foi deflagrada pela Procuradoria da República no dia 3 na maior ofensiva já desfechada contra o mercado paralelo da moeda americana no País, culminando na prisão de 35 doleiros históricos, que agem desde os anos 1970 em praças diversas e comunicação com escritórios em paraísos fiscais.

Lava Jato investiga 429 clientes do banco de Dario Messer

Publicidade

Almirante Othon tinha 'camada de proteção' da propina, diz delator

As declarações foram prestadas em 28 de fevereiro e fazem parte do anexo 39 da delação de 'Tony'.

Cardoso governou Minas entre 1987 e 1991. O emedebista, de 80 anos, foi deputado federal por três mandatos (1979-1983, 1995-1996 e 2011-2015).

Camilo foi preso preventivamente em 3 de maio na 'Câmbio, desligo'. O doleiro está custodiado no sistema penitenciário estadual do Rio.

'Tony' relatou que, em 90% de suas transações com Camilo, o doleiro de BH lhe vendia dólares. Em contrapartida, 'Tony' entregava reais em São Paulo para Camilo. Segundo o delator, um funcionário de Camilo, identificado por Alexandre Silva, o 'Alex', ia a seu escritório, na capital paulista, 'recolher os recursos de reais em espécie'.

Publicidade

Aos procuradores, 'Tony' contou que, 'em algumas oportunidades', vendeu dólares para Camilo no exterior e recebeu reais em Belo Horizonte. "Nas operações que Camilo vendia dólares ao colaborador, Camilo já comentou com o mesmo que o dinheiro era oriundo da empresa Demetal, relacionada à família de Newton Cardoso", afirmou.

PUBLICIDADE

O ex-governador Minas e seu filho, o deputado federal Newton Cardoso Júnior (MDB-MG) são sócios na Companhia Siderúrgica Pitangui. A empresa, inaugurada em novembro de 1970, tem sede no terceiro andar de um prédio em Belo Horizonte.

'Tony' contou ao Ministério Público Federal que Camilo relatou a ele que tinha 'dificuldades para pagar contas na Ásia para saldar as operações de dólar cabo'. O delator disse que apresentou ao doleiro de Belo Horizonte um homem identificado como Alexsander Queiroz, que trabalhava com assessoramento financeiro.

"O colaborador sabe dizer que a empresa Demetal é a empresa que tinha necessidade de movimentar mais dólares e que precisava receber recursos na Ásia; que acredita que a conta aberta na Europa por Alexsander foi aberta em noma da empresa Demetal", contou.

De acordo com o anexo 39, 'Tony' começou a operar com Camilo e com José Carlos Maia Saliba, outro doleiro de Belo Horizonte, no ano 2000. O delator narrou que conheceu os dois por intermédio de José Bacha, 'principal doleiro de Belo Horizonte'. O juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal, do Rio, expediu contra Saliba um mandado de prisão temporária.

Publicidade

"Em meados dos anos 2000, já com uma idade avançada o sr. José Bacha se afastou do dia-a-dia da casa de câmbio, momento no qual Saliba e Camilo assumiram as operações. A partir do ano de 2010, os doleiros saíram do varejo e começam a atender operações maiores, notadamente do s. Nilton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais", afirmou.

"Os colaboradores (os delatores 'Tony' e Vinicius Claret, o 'Juca', também doleiro) acreditam que Saliba e Camilo ainda estejam na ativa no mercado de câmbio. No período compreendido entre 2011 e 2016, os colaboradores compraram 12,7 milhões de dólares, e venderam 8,6 milhões de dólares."

Procurados, o ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso e o deputado Newton Cardoso Júnior não comentaram.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO MARCELO LEONARDO, QUE DEFENDE CAMILO LELIS ASSUNÇÃO

"Camilo não é doleiro e nunca operou para o ex-governador e nem para ninguém. Há, na investigação, apenas a palavra de delator, sem qualquer prova de corroboração."

Publicidade

COM A PALAVRA, CARLOS ALBERTO ARGES JUNIOR, QUE DEFENDE JOSÉ CARLOS MAIA SALIBA

"José Carlos Maia Saliba é advogado militante e desconhece qualquer operação de câmbio envolvendo envolvendo o ex-governador. E que tais declarações são meras ilações proferidas pelos delatores no intuito de beneficia-los."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.