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Delator da UTC relata pagamentos a filho do presidente do TCU

Segundo Ricardo Pessoa, advogado Tiago Cedraz, filho do ministro Aroldo Cedraz, recebia R$ 50 mil mensais para repassar à empreiteira informações do Tribunal de Contas

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Por Redação
Atualização:

Por Fábio Fabrini, Fausto Macedo e Andreza Matais

O filho do presidente do TCU, Tiago Cedraz. Foto: Reprodução

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Filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, o advogado Tiago Cedraz foi citado em depoimento de delação premiada do dono da UTC Participações, Ricardo Pessoa. Conforme o empresário, Tiago receberia pagamentos de R$ 50 mil mensais para repassar à empreiteira informações do tribunal que envolvessem seus interesses.

Tiago também teria sido contratado pela UTC para atuar num caso sobre a Usina de Angra 3, que discutia licitação para obras de R$ 2 bilhões. Por esse caso, o escritório dele teria negociado pagamento de R$ 1 milhão. A empreiteira e outras empresas investigadas na Lava Jato integravam o Consórcio Una 3, interessado no contrato.

A fase de pré-qualificação da licitação foi suspensa temporariamente pelo TCU, após representação de um dos concorrentes. A decisão foi do relator, ministro Raimundo Carreiro, atual corregedor e vice-presidente da corte. Em 2012, no julgamento de mérito, embora a área técnica do tribunal recomendasse que a pré-qualificação fosse anulada definitivamente por causa de irregularidades no edital, Carreiro votou pela continuidade.

Essa medida interessava à UTC, já que seus concorrentes na licitação foram tirados do páreo. Carreiro foi acompanhado em seu voto pelos demais ministros presentes ao julgamento. Na ocasião, Aroldo Cedraz estava no plenário, mas alegou impedimento, como faz nos casos em que o escritório do filho atua.

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O nome de Tiago já foi citado na Operação Lava Jato pelo policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, informante do doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores do esquema de corrupção na Petrobrás. Oliveira afirmou em depoimento que levou "dinheiro do Youssef" algumas vezes no escritório do advogado, no Lago Sul, em Brasília.

COM A PALAVRA, O ESCRITÓRIO CEDRAZ ADVOGADOS

Em nota, o escritório Cedraz Advogados, de Tiago, informou que "nunca patrocinou nenhum caso do Grupo UTC perante o Tribunal de Contas da União" e que "processará o sr. Ricardo Pessoa, civil e criminalmente, pelas mentiras lançadas no bojo de uma delação premiada forjada para atenuar ilícitos confessados".

O escritório confirmou que trabalhou para o Consórcio Una 3, mas fora do TCU. A nota não traz mais detalhes sobre a atuação, alegando "confidencialidade cliente/advogado".

O escritório Cedraz Advogados informou também que "sempre pauta sua atuação pelo rigoroso cumprimento da legislação vigente, resultando inclusive na observância dos devidos impedimentos", e que coloca-se à disposição das autoridades para fornecer as informações necessárias à correta compreensão dos fatos".

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Veja a íntegra da nota divulgada:

"O escritório Cedraz Advogados nunca patrocinou nenhum caso do Grupo UTC perante o Tribunal de Contas da União.

Quanto ao Consórcio UNA 3, por força da confidencialidade cliente/advogado limita-se a esclarecer que no caso em que atuou o cliente não figurou como parte perante o TCU.

O escritório Cedraz Advogados sempre pauta sua atuação pelo rigoroso cumprimento da legislação vigente, resultando inclusive na observância dos devidos impedimentos.

O escritório colocou-se à disposição das autoridades para fornecer as informações necessárias para a correta compreensão dos fatos.

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O escritório processará o Sr. Ricardo Pessoa, civil e criminalmente, pelas mentiras lançadas no bojo de uma delação premiada forjada para atenuar ilícitos confessados."

COM A PALAVRA, O MINISTRO RAIMUNDO CARREIRO

Em nota, o ministro Raimundo Carreiro informou que agiu "com todo o rigor técnico que o caso exigia, tendo recomendado correções, exigido acompanhamento por parte da unidade técnica do tribunal e inclusão do empreendimento no rol de obras constantes do planejamento de fiscalização de obras do TCU". A decisão, segundo ele, foi aprovada "de forma unânime" pelos ministros presentes à sessão, que foi acompanhada pelo procurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal. "O ministro Aroldo Cedraz declarou-se impedido para votar a matéria", acrescentou.

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