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Delator da Odebrecht aponta R$ 4,67 milhões a Serra, o 'vizinho'

Fábio Gandolfo declarou à Procuradoria-Geral da República que havia um ‘compromisso’ de 3% com o hoje senador sobre as obras da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo; executivo da empreiteira disse à Procuradoria que 'compromisso é propina'

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Por Julia Affonso , Ricardo Brandt , Fabio Serapião e Fabio Fabrini
Atualização:

Serra. Foto: Evelson de Freitas/Estadão

O executivo Fabio Gandolfo, um dos delatores da Odebrecht na Operação Lava Jato, afirmou que o senador José Serra (PSDB-SP) recebeu R$ 4,67 milhões em 2004 sobre obras da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo. O valor, repassado sob os codinomes 'vizinho' e 'careca', era parte de um 'compromisso' de 3% do contrato do transporte paulista.

"O vizinho eu consegui detectar só R$ 4,67 milhões", afirmou o delator. "Esse codinome vizinho, estou falando de 2004, 2006, ele ficou meio conhecido dentro da empresa nas pessoas que tinham atividade complementar, de fazer programação. O vizinho ficou meio conhecido como Serra. A gente sabia."

A Procuradoria questionou Fabio Gandolfo se 'compromisso' era sinônimo de propina.

"Propina, propina", disse o executivo.

Segundo Gandolfo, o 'compromisso' havia sido assumido pelo executivo Romildo José dos Santos, então assessor de Benedicto Júnior em São Paulo. Benedicto Júnior, o BJ, foi diretor da Odebrecht Infraestrutura e também é delator do grupo.

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 Foto: Estadão

Fabio Gandolfo prestou depoimento em 15 de dezembro do ano passado na sede da Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul.

"Logo do início do contrato da Linha 2, ele (Romildo) me veio dizendo que tinha um compromisso da empresa com uma determinada pessoa. E que a gente deveria pagar 3%. Não seriam pagamentos regulares, mensais. Seriam pedidos a medida que fosse necessário. Foi dado o codinome para essa pessoa de careca. No começo não teve nenhum pagamento. Em 2004, teve algum pagamento", declarou.

"Eu vim a descobrir que esse codinome não era o usual que se usava dentro da empresa. O codinome que se usava era vizinho. Por quê? Porque ele morava perto do diretor na época-presidente da Odebrecht, Pedro Novis. Era vizinho do Pedro Novis, por isso vizinho. Eu imaginava que era careca, porque ele era careca. É o José Serra. Foi me dito depois que era o José Serra. Nunca me disseram que era o José Serra na pessoa física. Disseram que era o José Serra que coordenava a parte de arrecadação ou tinha relação. Esse é diferente. Esse eu programava, eu nunca pagava."

O delator afirmou que saiu do contrato da Linha 2 do Metrô em 2006. "O contrato do lote 2 terminou quando eu estava lá. O do lote 3 se estendeu. Eu não sei se foi pago (a José Serra) depois mais coisa."

Gandolfo declarou que o contrato do metrô de São Paulo, linha 2 - verde, foi assinado na década de 90, mas 'nunca teve eficácia'. O executivo afirmou que foi transferido para São Paulo em 2001 para 'tentar viabilizar que esse contrato se tornasse realidade'.

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De acordo com o delator, em cima do contrato havia diferentes porcentuais a serem pagos.

"Era como se fosse assim, você fechava: eu tenho direito a um limite de 4%. É o que eu posso gastar. No caso dos 3% (a José Serra), como não era eu que determinava quanto, eles me pediam. Eu só programava. Agora esse ano precisa de cinco parcelas de R$ 500 mil. Eu programava e esse dinheiro era entregue não sei a quem", afirmou.

COM A PALAVRA, JOSÉ SERRA

"O senador José Serra reitera que não cometeu irregularidades em sua longa vida pública, que sempre foi pautada pela lisura, ética e transparência.

A abertura do inquérito pelo Supremo Tribunal Federal servirá como oportunidade para demonstrar que as acusações e o conteúdo das delações são fantasiosos e infundados.

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Assessoria de imprensa do senador José Serra"

COM A PALAVRA, O METRÔ DE SÃO PAULO

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) acompanha com atenção a divulgação dos conteúdos das delações. Em casos que possam envolver pessoas de seus quadros, a STM ressalta que é a maior interessada no avanço e resolução dos processos, pois preza pela transparência de seus trabalhos e exige de seus funcionários uma conduta ética condizente com os mais elevados padrões do serviço público do Estado. No caso da participação efetiva de funcionários públicos em qualquer tipo de crime, a posição da STM é clara: que se aplique a lei, que sejam julgados e, se condenados, punidos.

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