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Delator confirma que Gabrielli mandou pagar agência com 'pendência' na Petrobrás

Valores foram abatidos de caixa da propina, segundo relata Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal; Muranno Brasil Marketing recebeu pelo menos R$ 6 milhões de lavanderia do doleiro da Lava Jato

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Por Fausto Macedo , Julia Affonso , Mateus Coutinho e Ricardo Brandt
Atualização:

Estatal quer saber sobre reuniões de Gabrielli com Costa Foto: Estadão

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa confirmou em depoimento à Polícia Federal que partiu do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli a ordem para o pagamento de uma agência de publicidade investigada pela Operação Lava Jato. A Muranno Brasil Marketing teria sido paga com recursos de propina desviados da estatal petrolífera num consórcio entre PP, PMDB e PT, partidos que comandavam o esquema de cartel e corrupção na Petrobrás.

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"Em determinada oportunidade, o então presidente da empresa Sérgio Gabrielli mencionou ao declarante a existência de uma 'pendência' da Petrobrás junto a empresa (Muranno) e solicitou ao declarante que fosse resolvida", afirmou Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato. O ex-diretor foi ouvido no dia 14 de julho, no inquérito que apura os pagamentos à agência de publicidade.

O nome da Muranno surgiu ainda no início da Lava Jato - deflagrada em março de 2014 - na quebra de sigilo bancário das empresas do doleiro Alberto Youssef. Foram identificados R$ 1,7 milhão pagos entre o final de 2010 e início de 2011, em meio aos repasses envolvendo empreiteiras do cartel.

 

 

 Foto: Estadão

A Muranno foi apontada por Youssef em sua delação premiada como uma agência contratada pela Petrobrás. Credora de cerca de R$ 6 milhões, a Muranno teria pressionado o governo Lula para receber valores, após o rompimento de contratos.

"Houve a suspensão de contratos pela Petrobrás, prejudicando recebimentos da parte acordada com as empresas, que deveriam ser quitados independentemente de suspensão", afirmou o doleiro. Sua versão é coincidente em boa parte com as declarações de Paulo Roberto Costa, no dia 14 de julho.

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"Foi chamado por Paulo Roberto Costa, o qual pediu que esta questão fosse resolvida, pois teria recebido um pedido de Sérgio Gabrielli, presidente da estatal, para que isso fosse solucionado." Gabrielli será ouvido na tarde desta sexta-fera, 9, na Justiça Federal, em Curitiba, como testemunha de defesa de Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, preso desde 19 de junho.

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"Destinou no total aproximadamente R$ 6 milhões às duas empresas de publicidade", explicou Youssef. "Pagou parte em dinheiro e parte em TEDs, feitas pela MO Consultoria ou Empreiteira Rigidez, e também pagou parte com depósitos da Sanko Sider." As duas primeiras eram firmas de fachada de sua lavanderia e a Sanko atuava em parceria com seus esquemas de lavagem na Petrobrás.

O ex-diretor Paulo Roberto Costa declarou no dia 14 que "não sabe dizer por qual motivo Gabrielli tenha intercedido" pela "empresa Muranno".

Na versão do doleiro, Costa recomendou que os valores para a Muranno fossem rateados entre PT, PMDB e PP. "Deveria providenciar a quitação dos créditos da empresas, para tanto buscando a contribuição junto a colaboradores do PT, PMDB e PP", afirmou Youssef.

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O doleiro disse ter ficado "receoso" com o pedido de Costa "pois para pagar a dívida toda, teria que retirar da parte que era destinada ao PP. "A sugestão de Paulo (Roberto Costa) foi que então o PP cobrisse uma parte, o PMDB cobrisse outra e que o próprio PT também contribuísse para quitar os valores que estavam sendo cobrado pelas empresas."

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Costa afirmou que iria conversar com o operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano "para poder conseguir pagamento da parte que caberia ao PMDB".

O doleiro revelou que cuidou dos pagamentos. "Soube que o PMDB acabou não contribuindo com nada", disse Youssef. "Quanto à parte de deveria ser paga pelo PT, o depoente foi procurado por Júlio Camargo que informou que cuidaria da parte que o PT deveria arcar e então repassou valores ao depoente mediante pagamentos de ordens no exterior em contas indicadas pelo depoente", registrou a PF. Youssef informou que Julio Camargo - lobista ligado ao ex-ministro José Dirceu - também teria citado o nome do então chefe de gabinete de Gabrielli, Armando Tripodi.

A Muranno é alvo da Lava Jato desde agosto de 2014 quando foi aberto um inquérito específico para apurar qual o envolvimento da agência no esquema de caixa-2 nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O dono da empresa, Ricardo Villani, ouvido no dia 9 de setembro de 2014, confirmou que prestou serviços sem contrato entre 2006 e 2009 para a Petrobrás.

Villani diz que em 2004 um ex-gerente da Petrobrás o aconselhou a abrir uma empresa para fazer o marketing da estatal em provas de corrida de automóvel nos Estados Unidos. Segundo ele, a Muranno foi criada especificamente para esses serviços, divulgação do etanol nas provas da Fórmula Indy.

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Villani afirmou que tinha R$ 7 milhões a receber. Segundo ele, depois de se reunir pessoalmente com Paulo Roberto Costa - ainda diretor de Abastecimento da Petrobrás -, foi procurado por Youssef, que se identificou como "Primo" e providenciou os pagamentos de parte da dívida. Disse que procurou Costa depois que ele deixou a estatal, em 2012.

 

O doleiro afirmou se recordar de ter ouvido do dono da Muranno que "teria ido junto com alguém importante do sindicato dos petroleiros pressionar Paulo Roberto Costa para que o pagamento às empresas de publicidade fosse honrado, a despeito da suspensão dos contratos pela Petrobrás".

Em 29 de outubro, confirmou ao Estado ter valores a receber, mas negou que era referente à propina. Disse que eram atrasados dos serviços prestados.

COM A PALAVRA, JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI, EX-PRESIDENTE DA PETROBRÁS

Nunca tive contatos com esta empresa Muranno, que depois das reportagens, vim a saber que prestava serviços para a Comunicação do Abastecimento e não para a Comunicação Corporativa.

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Desta forma não poderia haver uma "pendência" da Petrobrás com a referida empresa.

Se havia alguma pendencia com a área de Abastecimento, não era do conhecimento da Presidência da Petrobrás.

Nunca tive esta conversa com o Paulo Roberto Costa.

A empresa Muranno veio a ser identificada na Comissão de Investigações aberta por ordem da Presidência como recebedoras de pagamentos da Gerencia Setorial de Comunicações do Abastecimento.

Na estrutura da Petrobrás este é um órgão subordinado a Gerentes Executivos, que por sua vez estão subordinados aos Diretores de cada Área, ficando portanto no terceiro escalão hierárquico da empresa.

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Como resultado destas investigações, o gerente setorial foi demitido por justa causa.

Nunca tive contatos e não conheço o Senhor Alberto Youssef.

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