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Defesa de Gim Argello quer saber de Rodrigo Maia se ex-senador lhe pediu 'algo ilícito'

Advogados entregaram a Moro uma lista de 13 perguntas para o presidente da Câmara, arrolado como testemunha do réu da Lava Jato preso desde abril

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Por Mateus Coutinho e Julia Affonso
Atualização:

Gim Argello (esq) e Rodrigo Maia (dir). Foto: Estadão

A defesa do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), réu na Lava Jato acusado de cobrar propina de R$ 5,3 milhões para poupar empreiteiros das CPIs da Petrobrás em 2014, encaminhou nesta segunda-feira, 25, ao juiz Sérgio Moro uma lista de perguntas para o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) arrolado como sua testemunha de defesa no processo.

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Ao todo, são 13 perguntas sobre as duas CPIs ocorridas no Congresso (uma no Senado e uma Comissão mista) no período e que não convocaram nenhum empreiteiro para depor.

A Lava Jato desvendou poderoso cartel de empreiteiras que durante dez anos (2004/2014) assumiram o controle de contratos bilionários na estatal petrolífera.

A defesa de Gim Argello, preso desde abril na Operação Vitória de Pirro - 28.ª fase da Lava Jato -, quer que o presidente da Câmara diga se foi procurado pelo então senador para barrar a convocação dos empreeiteiros nas CPIs, para convencer algum outro parlamentar a não convocá-los, para não votar algum requerimento na comissão - e até se Argello lhe pediu algo ilícito.

Maia poderá responder por escrito.

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AS PERGUNTAS DE GIM ARGELLO PARA RODRIGO MAIA

1. Vossa Excelência já ocupou quais cargos eletivos? O senhor ocupa algum cargo eletivo atualmente? Quais os partidos políticos que o senhor já foi filiado? E atualmente?

2. O sr. foi membro efetivo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, criada pelo Requerimento nº 2, de 2014 - CN, "com a finalidade de investigar irregularidades envolvendo a empresa Petróleo Brasileiro S/A (PETROBRAS), ocorridas entre os anos de 2005 e 2014 e relacionadas à compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), aolançamento de plataformas inacabadas, ao pagamento de propina a funcionário da estatal, e ao superfaturamento na construção de refinarias"?

3. Na época da citada CPMI, o senhor exercia a liderança no seu partido? Caso negativo, quem era o líder do partido?

4. Em linhas gerais, como se dão os trabalhos em uma CPMI?

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5. Como são feitos os requerimentos apresentados pelos membros da CPMI de convocação para depoimento? Qualquer membro da CPMI pode elaborar requerimento, de qualquer partido? Quais os tramites internos desde a elaboração de um requerimento por um membro da CPMI até que ele (requerimento) seja efetivamente perguntado ao depoente?

6. O presidente e o vice-presidente da CPMI tem poder de vetar e/ou deixar de convocar alguma pessoa para ser ouvida na CPMI, mesmo que seja de interesse dos membros da CPMI a oitiva de determinada pessoa?

7. O presidente e o vice-presidente ou qualquer outro membro da CPMI tem poder de vetar a elaboração e/ou votação de requerimento a ser feito às pessoas a serem ouvidas?

8. Alguma vez o ex-senador Gim Argello o abordou para lhe pedir que não fossem convocados os empreiteiros para prestarem depoimento na CPMI?

9. Alguma vez o ex-senador Gim Argello o abordou para lhe pedir que o senhor convencesse qualquer outra autoridade a não convocar os empreiteiros para prestarem depoimento na CPMI?

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10. Um único membro da CPMI teria como impedir a convocação e/ou até mesmo o depoimento de qualquer pessoa na CPMI?

11. O ex-senador Gim Argello pediu ao senhor para não votar qualquer tipo de requerimento de convocação de qualquer pessoa à CPMI?

12. Alguma vez o ex-senador Gim Argello lhe pediu algo ilícito?

13. O senhor tem conhecimento de algo que desabone a conduta política de Gim Argello?

A iniciativa faz parte da estratégia da defesa do ex-senador, que como não foi reeleito em 2014 perdeu o foro privilegiado e atualmente responde a uma ação penal perante o juiz Sérgio Moro, em Curitiba, sede da Lava Jato. Ele é o primeiro réu da Lava Jato que chamou praticamente só políticos para sua defesa, sendo ao todo 15 parlamentares, entre deputados e senadores, arrolados como suas testemunhas.

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Na lista há nomes de nove partidos - PSD, PMDB, PT, PDT, PV, DEM, PSDB, PSB e PP.

A defesa de Argello também listou como testemunha o ministro do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo, o ex-senador e ex-ministro dos Transportes no governo Dilma Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP), o ex-senador Hugo Napoleão (PSD-PI) e o diretor das comissões de inquérito do Senado, Dirceu Vieira Machado.

O partido com mais nomes é o PT - quatro parlamentares -, seguido pelo PSDB, com três, e o PSD, com dois. Dos outros partidos, a defesa de Argello chamou um político de cada agremiação.

Se destacam na lista nomes como o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), um dos mais ferrenhos opositores de Dilma e que foi coordenador jurídico da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB) em 2014.

Também aparece o senador Humberto Costa (PT-PE), que virou líder do governo Dilma no Senado após a prisão de Delcídio Amaral por tentativa de obstruir a Lava Jato e o deputado e ex-ministro das Cidades no governo Dilma Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

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Acusação. Nesta denúncia, decorrente da 28ª fase da Lava Jato, Gim Argello e outros oito réus são acusados de arquitetar um esquema de pagamento de ao menos R$ 5,3 milhões em propinas de empresas para evitar a convocação de empreiteiros investigados na Lava Jato para depor nas CPIs no Senado e no Congresso em 2014.

Naquele ano foram instaladas uma CPI Mista e uma CPI no Senado e nenhuma delas convocou empreiteiros das grandes construtoras para depor.

Nesta investigação, a Lava Jato, com base nas delações de vários empreiteiros, revelou que o ex-senador teria cobrado R$ 5 milhões de cada uma de sete empreiteiras que atuaram no cartel na Petrobrás.

Algumas empresas, como a Andrade Gutierrez, por exemplo, acabaram não pagando a propina e por isso seus executivos não foram denunciados no processo criminal contra Gim Argello.

Ao menos a OAS e a UTC, contudo, teriam acertado os pagamentos, sendo que parte da quantia foi repassada via doações oficiais para os partidos da coligação de Argello nas eleições de 2014 - formada por DEM, PR, PMN , PRTB e PTB. Outra parte foi repassada para uma paróquia em Brasília.

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O Ministério Público Federal não atribui nenhuma irregularidade aos partidos da coligação pois, segundo os investigadores, não há provas de que eles tinham conhecimento de que o pagamento era decorrente dos crimes de Argello. As empreiteiras não comentam as acusações.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de Rodrigo Maia, mas ainda não obteve retorno.

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