Os advogados do brasileiro Rodrigo Dantas, preso em Cabo Verde, arquipélago na costa ocidental africana, se insurgiram contra a sentença do juiz local que foi produzida em papel timbrado com a figura do Zorro. Dantas e outros brasileiros foram presos no país africano após a polícia local encontrar 1 tonelada de cocaína no veleiro em que eles viajavam.
O personagem de ficção criado no início do século 20 pelo escrito norte-americano Johnston McCulley aparece nas páginas da sentença que condenou o brasileiro a 10 anos de prisão por tráfico internacional de drogas. Em todas as 104 páginas da decisão, o juiz Antero Lúcio de Lopes Tavares utilizou a famosa imagem de Zorro, com a espada em punho, em cima de seu cavalo, o Tornado - que ao empinar está apoiado apenas em suas patas traseiras.
"Não podemos deixar de repudiar com veemência, o uso indevido de símbolos estranhos à República de Cabo Verde, no timbre utilizado na dita decisão, por acreditarmos ser este o sentimento de todos os demais magistrados deste respeitável País, sabedores que o exercício da magistratura exige conduta compatível com os preceitos da imparcialidade, da cortesia, da transparência, da prudência, da dignidade, da honra e do decoro, do respeito às leis do seu país e dos tratados e convenções internacionais", diz nota divulgado pelos advogados Bruno Espiñeira, Maurício Mattos e Victor Quintiere.
Velejador, Dantas achou um anúncio de emprego na internet e junto com outro amigo velejador decidiu enfrentar uma viagem pelo oceano Atlântico para entregar o veleiro na Ilha de Açores, em Portugal. Eles foram contratados pela empresa Yatch Delivery Company, com sede na Holanda.
O veleiro partiu em agosto, quando a Polícia Federal realizou uma inspeção na embarcação por duas vezes, em Natal e em Salvador. Nas duas ocasiões não foi encontrada a droga apreendida na ilha de Mindelo, em Cabo Verde.
O Ministério Público de Cabo Verde acusa Dantas e os outros brasileiros de tráfico internacional de drogas e afirma que a droga foi embarcada ainda em Natal. A Polícia Federal na Bahia abriu uma investigação e revelou que a droga teria sido embarcada no Espírito Santo, antes de Dantas e seu amigo embarcarem no veleiro. Entretanto, as autoridades cabo-verdianas não reconhecem a investigação brasileira.