Inquérito da Lava Jato no Supremo informa que o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), pretendia assumir papel de destaque na 'estrutura criminosa' que envolvia parlamentares do partido, em 2012, e que se havia instalado na Petrobrás. Segundo a investigação, Ciro teria tentado substituir o doleiro Alberto Youssef na organização do pagamento de propinas do esquema montado na estatal petrolífera desde 2004.
Nesta terça-feira, 24, Ciro e o deputado Eduardo da Fonte, o Dudu da Fonte (PP/PE), foram alvo de buscas da Polícia Federal. Os dois estão sob suspeita de tentarem comprar o silêncio de um ex-assessor do PP, testemunha chave.
+ PGR suspeita que Ciro e Dudu da Fonte tentaram comprar silêncio de ex-assessor
Atrás de provas, os agentes federais ainda vasculham os gabinetes e os apartamentos funcionais e residenciais do senador e do deputado.
A operação foi autorizada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo, que também decretou a prisão preventiva do ex-deputado Márcio Junqueira (PROS/RR), apontado como elo dos parlamentares com o ex-assessor que está colaborando com as investigações.
Segundo o inquérito apresentado pela Procuradoria-Geral da República em setembro de 2017 e assinado pelo então procurador-geral Rodrigo Janot, o doleiro Alberto Youssef era ligado a personagens mais antigos do partido, como o ex-deputado José Janene (morto em 2010 e apontado como o mentor do esquema de cartel e proipinas na Petrobrás).
Por seu lado, o grupo de Ciro e Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, preferia o operador Henry Hoyer, mas não teve sucesso em sua meta de assumir o controle da distribuição de propinas.
"Na prática, Alberto Youssef, por já ter bom relacionamento com as empreiteiras, permaneceu no exercício da função, em conjunto com Henry Hoyer", traz o documento da Procuradoria-Geral da República.
Hoyer foi preso na Operação Sem Fronteiras, 43.ª fase da Lava Jato. Depois, o juiz Sérgio Moro mandou soltá-lo.
Segundo delação de Youssef anexada ao inquérito, ele 'praticamente continuou a fazer o mesmo que fazia anteriormente, com a única modificação de que, ao invés de repassar os valores diretamente aos integrantes do PP, passou a fazê-lo por intermédio de Henry, que, por sua vez, entregava os valores a (deputado) Arthur de Lira (PP/AL)'.
Um repasse, de R$ 1,6 milhão, deu início à operação deflagrada nesta terça-feira, 24, após Ciro e Dudu da Fonte tentarem comprar o silêncio do ex-assessor.
Em 2011, parlamentares do PP, por meio de um contrato fictício com a empresa KFC Hidrossemeadura, pertencente a Leonardo Meirelles e o grupo Queiroz Galvão, teriam recebido dinheiro desviado da Diretoria de Abastecimento da Petrobrás.
O inquérito ainda detalha que os valores foram transferidos para Hong Kong por Leonardo Meirelles e lavado por meio de comerciantes chineses da Rua 25 de Março, popular centro comercial em São Paulo.
Depois, Meirelles repassou o dinheiro a Youssef, que 'se encarregou de transferir os valores para a organização criminosa relacionada ao PP', em Brasília.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE CIRO
O criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, declarou. "O senador se encontra fora do Brasil, não sabendo em qual país e que não foi possível ainda falar com ele. Desconhece a defesa, até o presente momento, as razões da determinação judicial do Ministro Fachin. É certo que o senador sempre se colocou à disposição do Poder Judiciário, prestando depoimentos sempre que necessário e, inclusive, já foi alvo de busca e apreensão. Continuará a agir o senador como o principal interessado no esclarecimento dos fatos. No momento, a defesa aguarda contato com o Senador para poder ter o necessário instrumento de poderes que dará direito ao acesso aos fundamentos da medida de busca e apreensão."
COM A PALAVRA, DUDU DA FONTE
O deputado Eduardo da Fonte disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "confia na Justiça e em Deus". "Estou à disposição da Justiça sempre", afirmou.