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Cerveró aponta Rossetto em tentativa de beneficiar Copersucar na BR Distribuidora

Ex-ministro, ligado à presidente afastada Dilma Rousseff, teria proposto, em 2013, exclusividade de vendas de álcool para subsidiária da Petrobrás; 'propinas passariam todas a ser controladas pela Copersucar', afirmou delator

Foto do author Julia Affonso
Por Mateus Coutinho , Gustavo Aguiar , Julia Affonso e Ricardo Brandt
Atualização:
 

O ex-diretor de Internacional da Petrobrás e da BR Distribuidora Nestor Cerveró afirmou em sua delação premiada que o ex-ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário, Trabalho e Previdência/governos Lula e Dilma) fez lobby para que a Copersucar S.A. se tornasse a única vendedora de álcool para a estatal.

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"As propinas passariam todas a ser controladas pela Copersucar", afirmou Cerveró no termo de delação 19, prestado em dezembro e tornado público na semana passada. "A compra de álcool é um dos principais itens de arrecadação de propina na BR Distribuidora."

Os depoimentos de Cerveró foram gravados em áudio e vídeo pela força-tarefa da Operação Lava Jato na Procuradoria-Geral da República, a quem compete investigar políticos detentores de foro privilegiado, como deputados e senadores.

O ex-diretor da Petrobrás disse que em 2013, o então presidente da BR Distribuidora José de Lima Andrade Neto o chamou para uma reunião informal para comunica-lo que Rossetto, que era presidente da Petrobrás Biocombustíveis - responsável por álcool e biocombustíveis da estatal - propôs que a Copersucar tivesse um contrato de exclusividade.

"No sentido de que a empresa fosse a única compradora de álcool para a BR, ou seja, a Copersucar seria uma intermediária, comprando o álcool (das usinas) para a BR, que depois faria o trabalho normal dela de distribuição", afirma Cerveró.

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A Copersucar S.A. é a maior comercializadora global de açúcar e etanol integrada à produção e a maior exportadora brasileira desses produtos, com atuação nos principais mercados mundiais. A Copersucar atende a 12% da demanda mundial de etanol, segundo informações no site da companhia. No mercado de açúcar, responde por 12% do mercado livre da commodity. Sua plataforma logística tem abrangência global e entre seus clientes estão as principais companhias de petróleo, refinarias de açúcar e indústrias de alimentos do mundo.

Alerta. O delator disse que os integrantes da diretoria fizeram objeções e afirmaram que a ideia era 'muito ruim, porque o negócio não seria bom para a BR e não faria sentido'. Ele relatou que Lima defendeu a empreitada com 'entusiasmo'.

 Foto: Estadão

"Quem surgiu com essa ideia foi Miguel Rossetto, e Lima levou-a adiante. Alguém da Copersucar levou essa ideia para Miguel Rossetto.Se a ideia fosse implementada, as propinas relativas à compra de álcool seriam pagas pela Copersucar, não mais pela BR", afirmou Cerveró aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato.

"Acredito que haveria um negócio que o Rossetto participaria porque quem trouxe o negócios para o Lima foi ele e pelo entusiasmo que o Lima defendeu havia um interesse dos dois em fechar esse acordo com a Copersucar", respondeu, ao ser perguntado se acredita que o episódio envolveria propina.

"Para a BR não trazia beneficio nenhum, isso só beneficiava a Copersucar que ganhava um poder de compra e de negociações, porque a transformava na maior compradora de álcool do Brasil. Esse tipo de coisa não acontece de graça."

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O delator afirmou que os dois "grandes beneficiários da propina na BR" seriam Pedro Paulo Leoni Ramos, o PP, ex-ministro e operador de do senador e ex-presidente Feranndo Collor de Mello, e o então senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS). "PP e Delcídio ficaram muito irritados com essa ideia."

O delator diz que a subsidiária da Petrobrás era dividida pelo PT, PMDB e PTB (na época, cota do senador Fernando Collor de Mello).

Rossetto não foi localizado para comentar o assunto.

COM A PALAVRA, A COPERSUCAR

A Copersucar, líder na comercialização de etanol, mantém relacionamento comercial com diversas distribuidoras no Brasil, dentre elas a BR Distribuidora, sempre na mais estrita observância da legislação brasileira.

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COM A PALAVRA, MIGUEL ROSSETTO

Segue a nota na íntegra: A respeito da nota divulgada no jornal Estado de São Paulo on line - Cerveró aponta Rossetto em tentativa de beneficiar Copersucar na BR Distribuidora, informo:

1. Receber e conhecer empresas fazia parte de minha rotina de trabalho. E por isso, receber a Copersucar, maior empresa do país em produção de etanol, deve ser encarado como parte do trabalho do presidente da Petrobrás Biocombustíveis, e, em hipótese alguma, lobby.

2. Como presidente da Petrobras Biocombustíveis trabalhei de forma permanente com a BR Distribuidora no sentido de reduzir custos de logística e comercialização.

3. Pensando nisso, Petrobras Biocombustíveis e BR Distribuidora sempre desenvolveram estudos para buscar eficiência nas operações de produção e venda de etanol e biocombustíveis, incluindo a Copersucar, dentre outras.4. Repudio com veemência toda e qualquer insinuação sobre minha conduta apontada pelo réu confesso Nestor Cerveró.

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Miguel Rossetto

 
 
 
 
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