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'Câmbio, desligo' manda prender doleiros da Satiagraha, Castelo de Areia e Caso Siemens

O líder desse grupo seria o doleiro Dario Messer, apontado por Alberto Youssef - doleiro da Lava Jato - como um dos "doleiros de doleiros", um operador grande que dava suporte financeiro a outros menores

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Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo , Fabio Serapião/BRASÍLIA e Luiz Fernando Teixeira
Atualização:
 

A operação 'Câmbio, desligo' do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro prendeu nesta quinta-feira, 3, um grupo de 33 doleiros, entre eles os maiores em atividade no país, operando há 20 anos. Ao todo, o juiz federal Marcelo Bretas decretou a prisão preventiva de 45 doleiros. Na lista dos operadores financeiros estão nomes que já foram alvos de grandes operações como a Satiagraha, Castelo de Areia, Banestado e um doleiro citado no Caso Siemens.

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A "Câmbio, Desligo" é a nova fase da Lava Jato do Rio de Janeiro e avança sobre uma "organização criminosa especializada na prática de crimes financeiros e evasão de divisas, responsável por complexa estrutura de lavagem de dinheiro transnacional, ocultação e ocultação de divisas". O líder desse grupo seria o doleiro Dario Messer, apontado por Alberto Youssef, como um dos "doleiros de doleiros", ou seja, um operador grande que dava suporte financeiro a outros menores.

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A operação teve origem no acordo de colaboração de Vinicius Claret, o Juca Bala, doleiro utilizado pelo grupo do ex-governador Sergio Cabral.

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Um dos alvos é a família Matalon cujo patriarca, Marco Matalon, é um dos mais conhecidos doleiros de São Paulo. Alvo da operação Satiagraha, deflagrada em 2008 para prender o empresário Daniel Dantas, do banco Opportunity, os Matalon haviam transferido sua banca para o Uruguai de onde continuaram a atuar no mercado de câmbio paralelo em parceria com Dario Messer. Na Satigraha, Matalon era apontado como doleiro do investidor Naji Nahas. O caso foi anulado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

De acordo com Juca Bala, a família Matalon teria movimentado cerca de US$ 100 milhões entre 2011 e 2017. "A família Matalon é tradicional família de doleiros líderes do mercado de câmbio ilegal em São Paulo, desde a década de 1990, capitaneada pelo patriarca Marco Matalon, e composta por seu filho Ernesto Matalon, sua sobrinha Patrícia Matalon e a funcionária Bella Skinazi", diz a decisão do juiz Marcelo Bretas.

Outro alvo da operação de pedido de prisão por parte do MPF é o doleiro Marco Antônio Cursini. Alvo do caso Banestado, Cursini assinou um acordo de colaboração premiada que deu origem á operação Castelo de Areia. A investigação, anulada pelo Superior Tribunal de Justiça, investigou a construtora Camargo Coorrêa e foi a primeira a descobrir o cartel de empreiteiras depois alvo da Lav Jato. De acordo com Juca Bala, o doleiro teria voltado a atuar no mercado de câmbio paralelo em 2010.

"Segundo os colaboradores, Marco Antônio Cursini era representado pelo apelido Masita nos bancos de dados ST e BANKDROP, assim, somente entre os anos de 2011 a 2017 as operações envolvendo os investigados totalizaram a astronômica cifra de US$ 33.000.000,00 (trinta e três milhões de dólares)", diz o despacho do juiz Bretas.

Siemens. Entre os alvos de pedido de prisão da "Câmbio, Desligo" também está o doleiro Raul Srour. Preso na primeira fase da Lava Jato, em março de 2014 Srour também foi alvo do caso Banestado erecebeu dinheiro da conta secreta aberta por ex-diretores da Siemens em Luxemburgo. A conta é investigada pela matriz alemã da Siemens. Em depoimento à Polícia Federal em 2013, o vice chefe de compliance da multinacional na Alemanha, Mark Gough, que apura o caso internamente, afirmou suspeitar que a conta tenha sido usada para pagar propina a agentes públicos brasileiros.

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Gough contou à PF que a conta de Luxemburgo, entre outras transferências, repassou valores para as contas de duas empresas suíças, de nomes Neisse e Limanda. A Limanda, relatou Gough, transferiu dinheiro para uma conta da empresa Cristal Financial Services, localizada nas Ilhas Virgens Britânicas. Essa empresa é de propriedade de Raul Srour e de um sócio dele, Richard Andrew van Otterloo.

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O juiz Marcelo Bretas não aceitou o pedido de prisão contra Srour, mas autorizou a prisão do seu sócio, o também doleiro Richard Van Oterloo. Segundo o MPF, Oterloo teria movimentado US$ 41 milhões entre 2011 e 2017.

"As operações de câmbio paralelo realizadas pelos colaboradores e os requeridos consistiam, principalmente, na transferência de dólares no exterior para uma conta indicada por Richard Andrew e recebimento de reais no Brasil em contrapartida. Chama atenção na representação os altíssimos os valores negociados pelos requeridos, variando de US$ 10.000,00 a US$ 700.000,00 por movimentação", diz trecho da decisão.

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