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Bumlai diz que ex-assessor especial de Lula pediu para 'deixar a obra' do sítio

Em depoimento à Polícia Federal, amigo do ex-presidente relatou que Rogério Aurélio Pimentel lhe telefonou e disse que os trabalhos no Santa Bárbara, em Atibaia, 'não estavam a contento'

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Mateus Coutinho e Fausto Macedo
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José Carlos Bumlai. Foto: Gabriela Bilo/Estadão

O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, declarou à Polícia Federal nesta quarta-feira, 17, que o ex-assessor especial do petista no Palácio do Planalto, Rogério Aurélio Pimentel, o procurou e pediu que 'deixasse a obra' do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP).

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A conversa, segundo Bumlai, ocorreu em 2010. Na ocasião, o pecuarista estava ajudando na ampliação das acomodações do sítio, segundo afirmou, a pedido da então primeira dama, Maria Letícia.

Bumlai depôs no inquérito da Operação Lava Jato que investiga o ex-presidente como real proprietário do Santa Bárbara - o que é negado taxativamente pela defesa de Lula.

Segundo Bumlai, Marisa pediu a ele que os ajudasse na ampliação para que pudesse 'passar os finais de semana'. O pecuarista afirmou ao delegado Márcio Anselmo, da PF, que solicitou a um engenheiro da usina da sua família que atendesse o pedido da mulher de Lula. Depois, disse Bumlai, 'não teve mais contato com o assunto'. "O engenheiro providenciou tudo."

Muito debilitado por um câncer na bexiga e complicações cardíacas, o pecuarista chegou e saiu da sede da PF em São Paulo amparado por seus advogados, Daniella Meggiolaro e Conrado Almeida Prado.

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Ele está em regime de prisão domiciliar, mas o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, determinou seu retorno à prisão fechada no dia 23. Bumlai é réu am ação penal por causa do emblemático empréstimo de R$ 12 milhões tomado por ele junto ao Banco Schahin, em outubro de 2004. O dinheiro foi destinado ao PT. Bumlai diz que foi 'o trouxa perfeito do PT'.

Sobre as obras no Santa Bárbara, na PF, nesta quarta, 17, o pecuarista relatou que 'após uns dias, recebeu ligação de Aurélio para deixarem a obra, pois não estava andando a contento'.

O então assessor especial de Lula informou que 'uma construtora de verdade iria tocar a obra'. De acordo com Bumlai, 'tinham pressa na reforma'.

O próprio Aurélio já depôs à PF, no dia 4 de março, na Operação Aletheia - desdobramento da Lava Jato que pegou Lula e o conduziu coercitivamente para uma sala no Aeroporto de Congonhas.

Aurélio disse, na ocasião, que exerceu a função de assessor especial desde janeiro de 2003 até 2011 - antes, foi chefe do Almoxarifado da Prefeitura de Mauá, na Grande São Paulo.

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Em seu depoimento, Aurélio resumiu a obra - 'construção de bloco de quatro suítes, bem como a reforma da piscina'- e revelou ter levado 'envelopes com dinheiro' para efetuar pagamentos em um depósito de materiais de construção.

"Não sabe dizer quem pagava pelos custos dos materiais comprados e usados na obra. Chegou por duas vezes levar envelopes com dinheiro para pagar no depósito de materiais de construção, pelos materiais usados na obra, sendo que recebia os envelopes com o dinheiro da pessoa de Frederico e entregava os envelopes ao responsável pelo depósito", disse o ex-assessor de Lula, na época.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA

Os advogados do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva esclarecem, em relação ao depoimento prestado nesta data (17/08/2018) pelo Sr. José Carlos Bumlai à Polícia Federal, que:

(a) A Operação Lava Jato não pode ter qualquer dúvida sobre a propriedade do Sítio de Atibaia. Desde março, os investigadores dispõem de farta documentação fornecida pelos proprietários -- Fernando Bittar e Jonas Suassuna -- comprovando, dentre outras coisas, que (i) eles adquiriram a propriedade com recursos próprios e (ii) pagaram com recursos próprios manutenção e reformas no local. A prova sobre a propriedade de um imóvel é documental, e já foi feita pelos donos do sítio;

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(b) O ex-Presidente, portanto, não é o proprietário do Sítio de Atibaia, que pertence às pessoas que efetivamente constam no título de propriedade arquivado no Cartório de Registro de Imóveis;

(c) O ex-Presidente -- que é amigo de Jacó Bittar há mais de 40 anos -- frequentou o local com seus familiares a partir de 15/01/2011, a convite dos proprietários. Tal fato não é crime, e tampou existe qualquer elemento concreto que possa vincular uma investigação sobre a propriedade à Operação Lava Jato.

Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira

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