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Até quero flores, mas quero meu lugar, igualdade e respeito

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Por Cândida Cristina Coelho Ferreira Magalhães
Atualização:
 Foto: Arquivo Pessoal

Comemora-se, tradicionalmente, no dia 08 de março, o Dia Internacional das mulheres, data marcada por manifestações de carinho, materializados nas mais coloridas flores.

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Entretanto, discorrer sobre esta data implica em fazer um resgate histórico nas lutas das mulheres, apenas assim é possível justificar com real legitimidade o sentido do dia 08 de março.

No ano de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos situada na de Nova Iorque fizeram uma grande greve, ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como: redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

Entretanto a violência imperou contra as mulheres, que foram trancadas dentro da fábrica e incendiadas. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas numa ação totalmente desumana.

O ato de coragem emanado por aquelas mulheres e, sobretudo, o sonho pela igualdade e justiça, foram covardemente incendiados, porém as sementes resistiram ao calor do ódio e germinaram nas cinzas. Assim, em memória à luta delas, foi decidido em 1910, durante uma conferência na Dinamarca, que o dia 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

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Entretanto, se avanço o lapso temporal e deparo-me com o tempo presente, reconheço com intimidade os gritos de luta, de socorro e de reivindicações de todas as mulheres.

Não há que se presentear com flores diante de um deserto tão árido. Segundo dados da ONU, o Brasil ocupa o 5º lugar em mortes de mulheres. Uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual, cerca de 120 milhões de meninas já foram submetidas ao sexo forçado e 133 milhões de mulheres e meninas sofreram mutilação genital. As estimativas revelam que, em trinta países, pelo menos 200 milhões de meninas e mulheres no mundo sofreram alguma forma de mutilação genital feminina.

É indubitável que após 160 anos o histórico de violações contra as mulheres continua latente, o coração afônico tenta palpitar gritos de socorro, mas os ouvidos da sociedade se recusam a ouvir. O sangue com cor de gênero ainda é jorrado frente aos nossos olhos. Mesmo assim parece imperceptível na visão social, apenas os atos machistas demonstram os sinais vitais que se perpetuam no tempo.

No DNA da violência contra as mulheres há inconfundíveis traços genéticos do patriarcado e do machismo, que se reproduzem reiteradamente o ciclo da perversidade de gênero.

O fogo da violência persiste e viola os mais singelos direitos das mulheres, o direito à dignidade, a integridade física e moral, a igualdade, a liberdade sexual e à vida.

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Eleger um dia para comemorar o Dia Internacional das mulheres transpõe uma solenidade fugaz, remetendo-nos a um profundo processo de reflexão e transformação.

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Para além das flores, nossos jardins necessitam de garantias fundamentais que assegurem as mulheres liberdades basilares, execução de leis de combate à violência de gênero e o incremento de políticas públicas em favor das mulheres, pois elas são sustentáculos imprescindíveis para o processo de transformação em âmbito mundial.

Assim, espera-se que o vespeiro da violência e violações contra as mulheres seja banido do nosso jardim, que as mulheres/borboletas batam suas imponentes asas com voos livres, belos e empoderados. Que a polinização da igualdade de gênero, da garantia dos direitos humanos e o fim da violência seja uma realidade a ser comemorada com muitas flores.

Reflexivo Dia Internacional das mulheres para todas nós!

*Cândida Cristina Coelho Ferreira MagalhãesAdvogada , palestrante e militante feminista.

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