Foto do(a) blog

Notícias e artigos do mundo do Direito: a rotina da Polícia, Ministério Público e Tribunais

Aqui são cordeirinhos, lá eram lobos maus, diz empreiteiro

Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, afirmou em depoimento à Justiça Federal que foi extorquido em R$ 4 milhões por doleiro, ex-diretor da Petrobrás e ex-assessor do PP, durante reunião em Brasília

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Por Andreza Matais, Ricardo Brandt e Julia Affonso

PUBLICIDADE

O empreiteiro Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, disse ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava Jato, que o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef 'parecem cordeirinhos' na frente do magistrado, mas 'lá, a cara deles era de lobos maus mesmo'. O 'lá', a que o executivo se refere, é uma reunião na qual ele afirma ter sido extorquido por Costa, Youssef e João Cláudio Genu, ex-assessor do PP, que teriam pedido R$ 4 milhões.

"Aqui, eu até vi na televisão, eles fazem cara de mansinhos para o senhor, parecem uns cordeirinhos para o senhor. Mas lá a cara deles não era de cordeirinhos, igual eles fazem para o senhor. Lá, a cara deles é de lobo mau mesmo. Apertando até dizer chega", afirmou o empreiteiro.

VEJA O QUE EMPREITEIRO DIZ SOBRE ALBERTO YOUSSEF E PAULO ROBERTO COSTA A PARTIR DO MINUTO 12

Segundo Erton Fonseca, por volta do fim do ano de 2010, início de 2011, o ex-diretor pediu que ele atendesse uma ligação do 'primo', apelido de Youssef. O executivo contou que à Justiça, que o doleiro o chamou para uma reunião em Brasília sem especificar o assunto. Ele afirma que havia visto Youssef em uma ocasião, tempo antes, na casa do ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em setembro 2010.

Publicidade

O encontro na capital teria ocorrido em uma casa. Erton Fonseca conta só descobriu que 'primo' e Youssef eram a mesma pessoa quando chegou ao endereço e viu o doleiro na porta do imóvel.

"Me convidaram para entrar, entrei lá dentro da casa. Quando eu entrei na casa, eu já não entendi mais nada, porque estava o diretor Paulo Roberto dentro da casa. O que o diretor Paulo Roberto estava fazendo dentro daquela casa em Brasília com o assessor do PP, junto ao senhor Youssef?", contou Erton Fonseca.

"Em 2, 3 minutos de conversa fiada, já foram para o assunto. Colocaram que a diretoria de Abastecimento era do PP, que o partido contava com uma colaboração das empresas que trabalhavam para a Petrobrás, nas obras de Abastecimento. Colocaram lá que a Galvão tinha em andamento diversos contratos e que se não desse a contribuição, eles iam atrapalhar a vida desses contratos. Eu fiquei lá naquela situação, questionei o Paulo Roberto: os contratos que nós ganhamos, o senhor sabe que nós ganhamos contratos por preços nunca antes praticados na Petrobrás, a vantagem que a Petrobrás teve na contratação desses contratos todos, o ganho que a Petrobrás teve nesses contratos todos. Mesmo assim, ele não se alterou, continuou a insistência. Virou uma briga, que tinha que pagar, puxaram um número que seria R$ 4 milhões. (Eu) Disse que não tinha como pagar esses R$ 4 milhões, me senti extorquido por tudo quanto era lado, faca no pescoço pelos três."

Paulo Roberto Costa, (à esquerda) e Alberto Youssef, delatores do esquema de propina investigado pela Lava Jato. Foto: Dida Sampaio/Estadão e Vagner Rosario/Futura Press

O PP, o PT e o PMDB são suspeitos de lotear diretorias da Petrobrás para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel. O esquema instalado na estatal foi desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato.

"Eu estava enojado com aquela situação, jamais podia imaginar que uma pessoa do calibre do Paulo Roberto, com conhecimento técnico que ele tinha, eu considerava o Paulo Roberto um excelente engenheiro, pelas reuniões que eu havia participado com ele, técnicas. Fiquei enojado com aquilo e pedi um tempo. Disse que não tinha autonomia para resolver aquilo e dei um jeito de sair de lá. Voltei para São Paulo, procurei meu superior, que era o Jean, contei o caso para o Jean, ele também ficou indignado com a situação. E nós fomos procurar o Dario (Galvão, sócio da Galvão Engenharia)", explicou Erton Fonseca.

Publicidade

O executivo disse, naquele momento, a empresa já havia mobilizado todas as obras. Foi decidido, então, que o pagamento dos R$ 4 milhões seria feito. Segundo Erton Fonseca, o dinheiro foi pago por meio de um contrato de consultoria com a empresa MO Consultoria, empresa de fachada de Youssef, em 7 parcelas, durante o ano de 2011.

"Mobilização de obra é a fase que mais se gasta no contrato. Você gasta, gasta, gasta, mas não começou a executar, então você não tem faturamento, você só tem gasto. A Galvão já havia gasto uma barbaridade de dinheiro que ela nem tinha para mobilizar esses contratos", contou o executivo. "O Dario achou melhor ceder a essa situação e a pagar os R$ 4 milhões. Ele autorizou o pagamento de R$ 4 milhões de extorsão."

_______________________________________________________

VEJA TAMBÉM

Sócio de empreiteira admite pagamento de propina para partidos

Publicidade

Cunhada de Vaccari mostra depósito de R$ 240 mil pago pelo PT em 2011

Juiz da Lava Jato condena Youssef por lavagem de R$1,16 mi do mensalão

_______________________________________________________

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.