O advogado Michel Saliba, defensor de sete políticos que estão na mira da Operação Lava Jato - entre eles Valdir Maranhão (PP/MA), vice-presidente da Câmara - disse que recebeu R$ 10 mil do ex-deputado João Pizolatti (PP/SC) por serviços prestados na área eleitoral há mais de quatro anos. O dinheiro foi depositado em sua conta por uma pessoa que ele afirma não conhecer, Rafael Ângulo Lopez, o faz-tudo do doleiro Alberto Youssef.
"Esse dinheiro não é de honorários, mas referente a despesas que tive com refeições, hospedagens e viagens entre Santa Catarina e Brasília, num período acumulado, atuando em ações de natureza eleitoral de interesse de Pizolatti", esclareceu Saliba. "O que recebi foi reembolso. Não recebi nenhuma propina. Isso é um absurdo. Eu soube apenas agora que o depósito foi feito por Rafael Ângulo."
Pizolatti é alvo da Lava Jato. Ele é apontado como um dos políticos do PP beneficiários de propinas do incrível esquema de corrupção instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014.
O sigilo bancário de Michel Saliba foi quebrado pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da Operação Lava Jato. A Corte também autorizou a abertura dos dados de vinte empresas e de outros alvos da investigação sobre corrupção na Petrobrás. A quebra do sigilo alcança período entre 2006 e 2014. Um alvo é o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (Governo Dilma Rousseff).
O nome de Michel Saliba e o de outro advogado, Fernando Neves - também com sigilo quebrado pelo Supremo - surgiram nas investigações da Lava Jato a partir de uma anotação na agenda do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa (Abastecimento) que indicava '0,56%' para advogados no período eleitoral. Em sua delação premiada, Alberto Youssef disse que os destinatários de valores foram advogados de Pizolatti. Ele disse que um advogado recebeu propina de R$ 560 mil.
Michel Saliba explicou que 'na época dos depósitos sua secretária cobrava o reembolso do Pizolatti'. "Ela vinha cobrando havia muito tempo. Aí a secretária dele (Pizolatti) disse que o depósito fora feito. Quatro anos depois soube que o depósito foi realizado pelo Rafael Ângulo que nem conheço."
O advogado contou à reportagem do Estadão que conhece Alberto Youssef 'das audiências da Lava Jato'. Youssef é peça central da grande investigação que revelou repasses ilícitos para o PP, partido que Saliba também representa.
"O que eu recebi do PP já está lá (na Justiça), o recolhimento de imposto, inclusive, são vários valores, contrato na área eleitoral, juntei tudo na ação. Sobre o Pizolatti, sobre o reembolso, também já entreguei no Supremo, tem as notas fiscais no Supremo, todas as notas de viagens."
Saliba, há 24 anos na profissão, desde 2003 estabelecido em Brasília, disse que o Supremo quebrou seu sigilo em maio. "Como quebraram agora (o sigilo) do advogado Fernando Neves estão trazendo à tona o meu caso. Já ficou esclarecido no depoimento de Alberto Youssef que eu não recebi R$ 560 mil de honorários. A quebra do meu sigilo já mostrou que não tem absolutamente nada de irregular na minha movimentação bancária "
Michel Saliba diz que considera 'muito preocupante que um advogado tenha que dar conta da origem do dinheiro que paga seus honorários'.
"É uma posição do próprio Supremo, o sigilo do advogado é uma prerrogativa do cidadão."