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A saúde dos olhos na pandemia

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Por Marina Roizenblatt
Atualização:
Marina Roizenblatt. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou o mundo sobre o início de uma pandemia causada pelo coronavírus (Covid-19). As consequências foram desastrosas, a infecção pelo Covid-19 já matou mais de 3 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo o Dr. Li Wenliang, oftalmologista de Wuhan, China, um dos primeiros médicos a notar e alertar a população global sobre a gravidade e rápida propagação do vírus. Frente a tal catástrofe que estamos vivenciando, tem-se difundido amplamente nos veículos de comunicação sobre o potencial efeito devastador do Covid-19 sobre o nosso sistema respiratório, foco primário da doença. Entretanto, embora menos frequente, o vírus também pode causar danos diretos ou indiretos na saúde ocular.

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A prevalência de manifestações oculares diretamente associadas ao COVID-19 varia de 2% a 32% e a literatura médica indica que a presença dos sintomas oculares está associada à gravidade da doença sistêmica causada pelo vírus.1 A conjuntivite é o achado ocular mais comum associado ao coronavírus.2 Embora menos comum, também se pode encontrar nos pacientes alguns problemas na retina, como pequenos focos de sangramentos, entupimento de vasos sanguíneos ou a dilatação dos vasos da retina.3

Soma-se a essa lista, os impactos negativos indiretos do coronavírus. Como resultado das medidas restritivas impostas pela pandemia, inúmeros pacientes com diagnóstico prévio de problemas oculares tiveram suas consultas, exames, tratamentos e cirurgias eletivas adiados. Segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a pandemia fez cair 30% o número de exames para detecção precoce glaucoma, doença que pode levar a cegueira se não tratada adequadamente e em tempo hábil.  Outras doenças oftalmológicas impactada pela pandemia foram aquelas que necessitam de repetidas injeções dentro do olho para o controle, como é o caso da degeneração macular relacionada à idade e do edema macular diabético, situação esta que impôs o desafio a médicos e pacientes de adequação dos protocolos de tratamento a fim de limitar os riscos de perda irreversível da visão a longo prazo.

E a lista não para por aqui, há um amplo espectro de achados oculares de gravidade e prevalência variáveis, mas cuja causa sempre aponta para um denominador comum: o coronavírus. Com a pandemia, pessoas das mais diferentes faixas etárias se viram obrigadas a aumentar o seu tempo de exposição às telas digitais, o que veio acompanhado de uma diminuição das atividades realizadas ao ar livre. Em suma, a demanda para visão de objetos próximos se impôs sobre a visão de longe. A consequência imediata foi aumento maciço da prevalência de sintomas oculares de olho seco, fadiga ocular e do grau dos óculos dos míopes. Bem menos frequente, porém de efeito devastador, são os casos recentemente descritos do fungo negro, cujo nome científico é mucormicose. Trata-se de uma infecção fúngica, altamente letal, que acomete classicamente na forma rino-orbitária pessoas imunossuprimidas e que tem sido descrita em associação com o coronavírus.

O cenário é de incertezas, reinventamos o modo como usamos os nossos olhos, porém uma coisa é certa: temos que preservar a nossa saúde ocular até o tão esperado momento de término da pandemia, a visão será fundamental para podermos usufruir dos promissores momentos futuros que a humanidade nos reserva.

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Referências

  1. Ulhaq ZS, Soraya GV. The prevalence of ophthalmic manifestations in COVID-19 and the diagnostic value of ocular tissue/fluid. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2020 Jun;258(6):1351-1352.
  2. Hu K, Patel J, Swiston C, Patel BC. Ophthalmic Manifestations Of Coronavirus (COVID-19). 2021 May 19. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan
  3. Jevnikar K, Jaki Mekjavic P, Vidovic Valentincic N, Petrovski G, Globocnik Petrovic M. An Update on COVID-19 Related Ophthalmic Manifestations. Ocul Immunol Inflamm. 2021 Apr 7:1-6.

*Marina Roizenblatt, médica oftalmologista especialista Retina Cirúrgica. Doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo, Brasil.  Postdoctoral fellow pela Johns Hopkins University, EUA

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