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A missão dada por Temer ao homem da mala na Câmara

'Você vai ser vice-líder do Governo, você vai pra CCJ e você vai ser vice-líder do Baleia', relatou Rocha Loures para lobista da J&F

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Luiz Vassallo e Fausto Macedo
Atualização:

Michel Temer e Rodrigo Rocha Loures. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em conversa gravada pelo executivo da J&F, em Brasília, Ricardo Saud, o homem da mala preta, Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor da Presidência, relatou qual era sua missão na Câmara dos Deputados, a pedido do presidente Michel Temer.

"Ele (Temer) chamou e falou assim 'você vai pra Câmara'. Eu disse assim: 'tá bom. O que que o senhor quer que eu faça?'", relata Loures, sobre conversa com Temer. (ouça aos 1h20min)

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Na ocasião, o assessor especial da Presidência tinha assumido sua cadeira na Câmara, como suplente do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), que estava no Ministério da Justiça.

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"Ele pegou e falou assim 'você não pode ser o líder do PMDB, porque o Baleia (Rossi, PMDB-SP) foi eleito agora. Você não pode ser líder do Governo porque o Aguinaldo (Ribeiro, PP-PB), foi feito um acordo lá com o Rodrigo Maia (presidente da Câmara, DEM-RJ), a gente moveu o André e blá, blá, blá ... Você vai ser vice-líder do Governo, você vai pra CCJ e você vai ser vice-líder do Baleia."

O homem da mala não sabia que estava sendo gravado. Candidato a delator, Saud gravou a conversa de quase duas horas, em um café em São Paulo, dias antes de Loures ser filmado saíndo com R$ 500 mil em dinheiro vivo, de uma pizzaria.

O delator queria saber dele da situação do governo e fala sobre as investigações que encurralam a J&F e membros do PMDB. "Não era melhor você ter ficado lá no Palácio não?"

"Ele (Temer) me chamou um dia e disse assim: 'qual e a sua opinião sobre o Serraglio'. É do meu Estado, meu colega. .. Eu dei a minha opinião. Ele disse assim: 'se eu chamá-lo, você volta pra Câmara. Como é que você vê isso?'.", conta Loures. Ele afirma ter dito que preferia não assumir posto na Câmara.

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Rocha Loures foi afastado da Câmara, por ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), em 18 de abril, quando foi deflagrada a Operação Patmos - que encurralou Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

No final de maio, com a exoneração de Serraglio do cargo de ministro da Justiça, Loures perdeu o posto e o foro privilegiado. No dia 3 de junho, o homem da mala foi preso pela Polícia Federal.

Temer e Loures foram denunciados formalmente pela Procuradoria Geral da República (PGR), na segunda-feira, 26. O homem da mala supostamente agia em nome de Temer e na condição de "homem de confiança" do presidente teria intercedido junto à diretoria do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) - órgão antitruste do governo federal - em benefício da J&F.

Rocha Loures carrega mala com R$ 500 mil em dinheiro. Foto: Reprodução

CCJ. Uma das missões de Loures na Câmara seria ocupar uma cadeia da Comissão de Constituição e Justiça, a CCJ. "Então, eu sou více-líder do PMDB, do governo e tô na CCJ."

Loures narrou conversa com Temer e disse que o presidente teria dado a ele qual seria o "papel" na Câmara. "'Você vai ajudar o Embassay com a base. Ele tá tendo muito problema. A relação do PMDB e PSDB tá muito difícil. Há muito ciúme de um lado e de outro. Você trabalha pra aproximar todo mundo'", teria dito Temer, segundo Loures.

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O presidente teria pedido ao homem da mala que ele trabalhasse para para ajudar o governo e o PMDB. "Ele me deu toda a receita, faça isso, faça aquilo." (ouça à partir de 1h24min30seg)

"Meu papel, Ricardo, é aprovar as reformas e dar atendimento ao governo."

Reformas. Objetivo maior era aprovar reformas. Segundo o homem da mala, que era assessor especial do presidente, "no nosso calendário, a gente aprova (as reformas) na Câmara, em junho".

"A gente aprova o segundo turno da reforma de Previdência em junho. Aprovou a Previdência, o govemo entregou um País melhor do que recebeu."

Rocha Loures foi flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil, no dia 28 de abril em uma das ações controladas feitas por investigadores junto aos delatores do grupo J&F. A PGR aponta que o valor recebido era propina repassada pelos empresários e suspeita que Temer possa ser destinatário.

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Os dois falam sobre os estragos da delação da Odebrecht. "Acho que um terço do Senado vai ser atingido e todas as lideranças." Ele afirma acreditar que as reformas serão aprovadas.

"Do ponto de vista quantitativo, nós vamos ter voto para aprovar as reformas. Aprovando as reformas, a gente destrava a economia, abre o mercado de capitais, pois há um apetito do mundo pelo País. E isso irriga, traz energia para a nossa economia, e alivia um pouco essa dor, esse desanimo."

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