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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Corrida à mídia estrangeira

O PT e o governo estão ganhando a guerra da comunicação com o mundo. Jornais importantes das Américas e da Europa vêm encampando a tese de que ocorre um "golpe de Estado" no Brasil, apesar de o impeachment da presidente Dilma Rousseff estar seguindo todos os trâmites legais, com votação na Câmara, agora no Senado, supervisão do Supremo Tribunal Federal e direito a transmissão ao vivo pela TV de todos esses passos do processo.

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Atualização:

São três os pontos aos quais a imprensa internacional recorre para desqualificar o impeachment de Dilma: não estaria caracterizado o crime de responsabilidade; o comando do processo é do PMDB e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ambos envolvidos em denúncias de corrupção; e a acusação de que, caso o vice Michel Temer venha a assumir a Presidência, ele iria sabotar a Lava Jato. Esta última versão foi admitida, incrivelmente, até pelo prestigiado jornal The Guardian, de Londres.

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Ao identificar na imprensa internacional um forte aliado contra o impeachment, a presidente Dilma não perdeu tempo e já nesta terça-feira, dois dias depois da decisão da Câmara, deu uma entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros, justamente reforçando esses pontos do discurso governista, aliás, muito bem estruturados. Como se sabe, o PT é bom de marketing e é melhor ainda para cristalizar suas versões.

De outro lado, o vice Temer já acionou aliados para investir também nos jornalistas e nos jornais estrangeiros, para dar o outro lado da questão, insistindo em que o impeachment é constitucional, segue todas as regras legais, e que elese assumirnão vai interferir na Lava Jato, comode resto, tambémao vai acabar os programas sociais - outra das acusações de Dilma contra Temer.

Entre tantas guerras, portanto, Dilma e Temer, PT e PMDB guerreiam também pela percepção dos jornalistas e pela divulgação de notícias na imprensa estrangeira. Dilma e o PT parecem estar vencendo de longe, o que pode criar problemas e constrangimentos, mais adiante, para um virtual governo Temer. Especialmente depois que o secretário geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) tomou ostensivamente partido de um dos lados, o de Dilma e do governo.

O curioso disso tudo é que uma das principais críticas do ex-presidente Lula à sua sucessora é a de que ela simplesmente anulou a política externa e jogou fora todos os ganhos do seu governo na área internacional. Agora, com o mandato por um fio, Dilma acaba de descobrir a importância externa. Ou melhor, da comunicação com o mundo exterior.

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Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta

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