Ao destacar na CPI sua trajetória na carreira das armas, Eduardo Pazuello pressupôs condição de imutável superioridade. Se o general se achava apto para exercer o cargo de Ministro de Saúde? "Me considero, sim, senhor!". Se o general teria capacidade de gestão e liderança no combate à pandemia? "É perguntar se a chuva molha!".
No mesmo dia em que Pazuello se tornou ministro interino, em maio de 2020, sem admitir em que grau era iminente a ameaça que pesava sobre o País, famílias e amigos choravam 700 novas mortes por covid. Sob suas mãos, durante os onze meses que se seguiram, a evolução da pandemia foi cataclísmica. No mesmo dia em que ele deixava o cargo, em março de 2021, mais de três mil pessoas eram sepultadas ou cremadas.
No carteado da CPI, o general reforçou sua plena lealdade ao presidente a quem serviu, mas também pôs em marcha um certo jogo do passa-adiante. Dois ex-titulares do governo, o secretário de Comunicação da Presidência, e o ex-ministro das Relações Exteriores, depuseram antes sobre inações da pasta da Saúde. Agora é Pazuello quem passa.
Um malogro fragoroso vira uma "missão" bem sucedida só porque o governo federal enviou dinheiro para governadores e prefeitos. Na linha do ex-ministro, são os secretários de Saúde, assentados pelo STF, que devem responder pela crise que "não é só sanitária, mas também de trabalho e sustento". Onde então se chegará? A responsabilidade pelas mortes será de quem morreu?
Para o general, que preocupou-se com uma "quarta onda, de automutilação e suicídio", o "campo de batalha" de uma epidemia se dá nas enfermarias. O depoente escorregou nas medidas que o país não tomou para controlar a transmissão do vírus.
Entre olhares de incredubilidade, entre ouvidos cansados ou abetumados da nação, tudo, para o ex-ministro, "é simples de entender", da recusa da compra das vacinas da Pfizer por causa de "cinco cláusulas assustadoras" até a condução criminosa perante o colapso de Manaus.
Churchill, sobre Hitler, dizia que o tirano usava da "originalidade da malícia" e da "engenhosidade da agressão". Os membros da CPI precisam desde já resolver como pretendem que o relatório do inquérito seja lido no futuro, se será uma peça do engenho em cartaz ou um documento histórico de rigorosa precisão.