PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

O outro lado da notícia

Lula, as ameaças de Gleisi e o império da lei

Com a virtual condenação de Lula pela Lava Jato, o partido da estrela vermelha volta a desafiar as instituições e a democracia, como se o Brasil fosse uma republiqueta de banana

Foto do author José Fucs
Por José Fucs
Atualização:

Gleisi, Lula e Dilma em encontro do PT, em Brasília ( Foto: André Dusek/Estadão)

Quando a gente pensa que o PT não pode mais nos surpreender, eis que, de repente, o partido supera mais uma vez as nossas expectativas - para pior. A última do PT - talvez o mais correto aqui fosse dizer "a mais recente", já que outras certamente virão - foi perpetrada pela senadora Gleisi Hoffmann, recém-empossada como presidente nacional do partido.

PUBLICIDADE

Em mais um sinal de que o apreço do PT pela democracia e pela independência dos Poderes se esgota quando seus interesses são contrariados ou colocados em xeque, Gleisi disse que o partido "não reconhecerá" uma eventual condenação de Lula pela Lava Jato e ameaçou realizar uma "denúncia internacional", se a decisão for referendada em segunda instância, impedindo-o de ser candidato em 2018.

Siga o blog pelo FacebookAcompanhe os posts do jornalista pelo TwitterLeia outros posts do Blog do Fucs no portal do Estadão

"Não vamos aceitar uma condenação sem fazer questionamento político. Vamos fazer denúncia internacional, mobilização, não vamos reconhecer", disse. "Esperamos que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) tenha com Lula o mesmo tratamento que teve com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Não há nenhuma prova que incrimine o ex-presidente Lula. A decisão do juiz Sérgio Moro é uma decisão política."

 O oportunismo e o desprezo pelas instituições do País parecem estar no DNA do PT

Publicidade

Como se isso não fosse o suficiente, Gleisi ainda reforçou a posição do partido em favor da antecipação das eleições de 2018, em franco desrespeito às regras do jogo e à Constituição, que prevê a posse do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, se o presidente Michel Temer deixar o cargo. "Trocar um governo golpista por outro não tem diferença alguma", declarou Gleisi.

Para quem conhece o PT, mesmo sem nunca ter sido petista nem simpatizante do partido, a ameaça de Gleisi não chega a ser uma surpresa. Ao longo de sua história, o PT cometeu inúmeras transgressões do gênero. A cada oportunidade que surge pelo caminho, o partido parece sempre reconfirmar o que já é sabido pelos brasileiros que não rezam pela cartilha petista: o PT só pensa no PT. O oportunismo e o desprezo pelas instituições do País parecem estar em seu DNA.

Foi assim em 1985, quando o Colégio Eleitoral era a única opção para derrotar Paulo Maluf, o candidato à presidência pelo PDS, o partido do regime militar. O PT tentou capitalizar a frustração dos que apoiavam as Diretas Já, derrotadas no Congresso Nacional, e ficou contra a a candidatura de Tancredo, o candidato da oposição. O PT até expulsou três de seus deputados federais, Bete Mendes, José Eudes e Airton Soares, por votarem em Tancredo.

Depois, em 1988, o PT deixou de assinar a nova Constituição, elaborada e aprovada democraticamente pela Constituinte eleita em 1986, sob o argumento de que não atendia os interesses dos trabalhadores. Hoje, curiosamente, a mesma Constituição é defendida ardorosamente como uma "conquista histórica" pelo partido, que se coloca contra qualquer mudança constitucional, exceto se for para beneficiá-lo, como no caso da antecipação das eleições do ano que vem.

No início dos anos 1990, após o impeachment de Collor, que o PT defendeu entusiasticamente, junto com as demais forças políticas do País, o partido negou-se a apoiar Itamar Franco, mesmo que o momento exigisse um governo de união nacional, por acreditar que sua gestão seria um fracasso e que isso favoreceria Lula nas eleições de 1994.

Publicidade

Com o impeachment de Dilma, aprovado dentro das regras constitucionais, o PT agiu como se o Brasil fosse uma republiqueta de bananas

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

No governo Itamar, o PT ficou contra o Brasil, ao apostar no fracasso do Plano Real, implantado em 1994, investindo na política do quanto pior, melhor, a sua estratégia preferida. Só que, para frustração do partido, o real foi um sucesso e o PT se deu mal de novo.

No final do governo Fernando Henrique, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma ferramenta criada para conter a gastança descontrolada do dinheiro dos pagadores de impostos, mais uma vez o PT se posicionou contra a modernização do Brasil ao votar contra a proposta.

Mais recentemente, com o impeachment de Dilma, aprovado dentro das regras constitucionais, o PT agiu como se o País fosse uma republiqueta de banana. Criou a "narrativa" - termo preferido pelos comunicólogos petistas - criminosa de que Dilma foi alvo de um "golpe" e estimulou suas milícias, incrustadas em organismos ou universidades internacionais, onde se deleitam com as benesses do capitalismo,a organizar protestos lá fora, para tentar colocar o mundo contra o Brasil. É a mesma estratégia que Gleisi e o PT ameaçam repetir agora se Lula for condenado e impedido de concorrer ao pleito do ano que vem.

Novamente, porém, o oportunismo do PT deu ruim. Apesar do esforço petista e das "manifestações" promovidas por meia dúzia de milicianos em grandes cidades no exterior, nenhum líder político internacional de peso levou a sério as bravatas petistas.Hoje, a narrativa do "gorpi" só serve para impulsionar a claque petista e seus aliados.

Publicidade

Se fosse necessário, seria possível enumerar aqui mais uma infinidade de outras iniciativas e posicionamentos do gênero adotados pelo PT em seus 37 anos de vida. Desde a sua fundação, em 1980, o PT sempre fez da marcação oportunista de território e da construção de "narrativas" que pouco ou nada tem a ver com a realidade e os interesses do País uma estratégia de atuação política, para tentar alavancar o crescimento do partido.

Diante das falcatruas em que o PT se envolveu, não seria agora, com Lula às vésperas de uma virtual condenação pelo juiz Sergio Moro, que o partido agiria de forma diferente.  Seria esperar demais do PT, depois de todas as manifestações de oportunismo que ele já deu.

Caberá aos brasileiros de bem, que engrossam os 68% de rejeição a Lula apontados pelas pesquisas, mostrar que o Brasil mudou e que, hoje, as "narrativas" fantasiosas do PT só enganam os incautos. Se Lula for condenado, certamente milhares de cidadãos também irão às ruas comemorar a decisão da Justiça. O império da lei tem de prevalecer sobre as iniciativas espúrias do partido, que ameaçam, ano após ano, as instituições e a democracia no País.

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.